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02. Sangue Quente
Peguei no papel e fui confrontar a Mirna, ela acabou por me explicar que ele, Patrick, fazia isso com várias colegas, era a forma dele ser, não gostei e fiz questão de lhe dizer, ela riu-se e depois abraçou-me.
No dia seguinte, já passava da hora do almoço quando o Isaac teve alta, o médico disse-nos que ele teria de ficar sobre vigilância, sugeri que ele ficasse em minha casa mas este negou e disse que não queria passar tempo comigo, optou por ficar com a Arya em casa dela. Tinha de falar com ele, precisava de esclarecer as coisas, tentei iniciar uma conversa mas ele expulsou-me e disse que depois falaríamos, não me conseguia perdoar.
Mais tarde, nesse mesmo dia, estava em casa a jogar xadrez com a Mirna quando a Arya tocou à campainha. Quando lhe abrimos a porta vi-a com os olhos vermelhos de choro, a irmã pediu-lhe para entrar e contar o que acontecera.
- O ... O Isaac ... a... acabou comigo! - Disse entre lágrimas. Eu e a Mirna olhámos em choque um para o outro sem saber o que dizer, ela abraçou a irmã e levou-a até ao sofá.
Tentámos perceber o que tinha acontecido para eles acabarem mas ela própria disse que não sabia, ele tinha terminado tudo com ela e depois saiu sem qualquer justificação. Aquilo não era comum no Isaac, devia estar relacionado com o aparecimento dos nossos pais biológicos. De repente ela levantou-se e correu para a casa de banho, a Mirna foi atrás dela, da sala ouvi-a vomitar.
Quando voltaram à sala, a Mirna estava preocupada com a saúde da irmã, vómitos e enjoos não era normal, a Arya disse-lhe que era só stress e muito trabalho, não acreditei naquela história, algo se passava, ponderei uma possível gravidez.
- Eu vou ter com ele para tentar perceber o que se passa! - Comuniquei às duas. - Fica aí a descansar. As melhoras. - Despedi-me dela e depois dei um beijo à minha namorada.
Entrei no carro e liguei-lhe, demorou a atender, o seu tom de voz estava diferente, perguntei-lhe onde se encontrava, após várias insistências revelou que estava em casa dos pais a seguir desligou. Demorei aproximadamente quinze minutos até lá, quando estacionei o carro e me dirigi para a entrada vi que a porta estava apenas encostada, abri-a e quando entrei na sala vi-o sentado no sofá a beber, pelo chão existiam várias garrafas vazias, o cheiro a álcool era intenso, chamei-o e ele quando me viu desatou-se a rir.
- Olá maninho. Como estás? - A sua fala arrastada misturada com o seu riso irónico deu-me vontade de lhe dar um estalo para acordar. - Queres dar um golinho? - Perguntou enquanto se ria.
Irritado com aquela situação aproximei-me e puxei-o por um braço, ele levantou-se mas não conseguia andar, apoie-o em mim e levei-o para a casa de banho no piso superior, íamos caindo nas escadas mas consegui equilibrar-nos, ele pedia mais bebida, abri a porta e sentei-o junto à banheira, tirei-lhe a camisola, ficou em tronco nú. Liguei o chuveiro com água fria, pendurei-o para dentro e comecei a molhar-lhe a cabeça, o Isaac só reclamava.
Após ficar sóbrio sentei-o numa das camas do nosso quarto e perguntei-lhe o motivo dele ter terminado com a Arya, disse-me que não queria falar disso, nem de nada, só queria estar sozinho, pedindo-me para sair, aceitei mas disse que no dia seguinte estaria ali para conversarmos, ele aceitou.
Quando estava a chegar a minha casa, encontrei a Mirna a tirar algumas malas do carro, fiquei feliz por se estar a mudar para junto de mim, perguntei-lhe pela Arya e esta disse-me que ela tinha ido para casa dos pais uns dias descansar e pensar na vida, contei-lhe o que tinha acontecido com o Isaac e ela ficou perplexa porque não o imaginava assim.
No dia seguinte resolvi levar a Mirna ao trabalho, disse-lhe que queria passar tempo com ela, não que fosse mentira mas o principal objetivo era ver a cara do meu rival e ter uma simples conversa com ele. Antes de sairmos tocaram à campainha e qual não foi o meu espanto quando vi que eram os meus tios, ou agora pais biológicos. Perguntei-lhes como tinham conseguido a morada e disseram-me que tinha sido através da Grace, a mãe adotiva. Não me apetecia falar com eles, ouvi-los era a última coisa que queria, disse-lhes que estava ocupado e que íamos sair.
Lembrei-me que eles ainda não se conheciam, a Audrey curiosa como sempre perguntou quem era a rapariga que estava em minha casa.
- Apesar de não ser obrigado a dar-lhe nenhuma justificação da minha vida, esta é a Mirna, a minha mulher! - Respondi aproximando-a de mim, esta saudou-os.
- Não sabia que o meu menino já era casado. - Disse ela entusiasmada. - Muito gosto em conhecê-la.
- Eu não sou o seu menino! - Afirmei rudemente. - Agora com toda a licença, nós estávamos de saída.
Saímos e tranquei a porta, vim-me embora sem me despedir ao contrário da Mirna que foi muito bem educada. Quando entrámos no carro ela estava com um sorriso gigante, perguntei-lhe qual o motivo e respondeu-me que se devia à forma como eu a apresentei.
Levei-a até ao trabalho, deixei-a à porta e ela entrou depois estacionei e fui ter com a rececionista para saber do Patrick, por sorte só existia um funcionário com esse nome, ela disse-me que ainda não tinha chegado e perguntou-me qual era o assunto, inventei que era uma reunião de emergência e que ficaria ali à espera dele, pedi-lhe que me dissesse quando ele chegasse, sentei-me no sofá enquanto observava o ambiente e tentava descobrir algo mais sobre o individuo.
Trinta minutos depois a empregada aproximou-se de mim e disse-me que ele tinha acabado de chegar apontando para o respetivo homem, estava a conversar na entrada com um grupo de mulheres. Agradeci e aproximei-me dele, apresentei-me como namorado da Mirna, ele estendeu-me a mão e eu cedi, acabámos por ficar ali só os dois.
- Em que posso ajudá-lo? - Inquiriu curioso. - A Mirna é uma excelente pessoa, uma grande mulher e uma colega muito empenhada. Sabia? - Perguntou. Respirei fundo e quase sussurrando respondi-lhe.
- Eu li o seu bilhete e não gostei! Assédio é crime, sabia? - Perguntei sendo irónico. - Se não quer ficar em maus lençóis e sem uns dentes na boca sugiro-lhe que pare com esta merda hoje mesmo.
- Tenha calma amigo! Era só uma brincadeira. - Disse pondo-me a mão no ombro.
- Eu estou calmo, caso contrário essa sua mão já estaria separada do corpo ... - Frisei esboçando um sorriso. Ele tirou a mão e depois revelou que não estava a gostar daquela conversa e que ia chamar a segurança. Agarrei-o pelo braço e fui direto ao assunto.
- Se não se despedir dentro de quarenta e oito horas o CEO desta empresa vai saber que você e a mulher dele andam enrolados e aí nunca mais terá emprego neste país. - Ele petrificou e quis saber como eu descobrira. - É um problema enorme a casa de banho dos homens ser junto à das mulheres, ouve-se tudo, depois foi só perguntar ali à rececionista quem era a mulher que tinha saído da casa de banho.
- E como tem tanta certeza que sou eu? - Perguntou muito sério.
Expliquei-lhe que a ouvira a falar ao telemóvel com alguém sobre ele e que sabia do encontro deles nessa manhã, por isso é que ele chegou atrasado. Engoliu em seco e ficou sem reação, fiz-lhe um ultimato.
- Aiden ... - Era ela. - O que estás aqui a fazer?
O que estão a achar? Irá o Patrick ceder?