outubro 13, 2015

Fragmentos de Vidas #8


Susana Pedro, dezanove anos, calma, simpática, ansiosa, amiga, teimosa, confidente, honesta, verdadeira, sincera, ...
Uma entrevista sobre a família, emoções, sentimentos e relações.  Este é essencialmente um questionário de amor, onde podemos descobrir esta alma.


Como te estás a sentir agora?
Estou um bocado stressada porque cheguei atrasada e eu sou uma pessoa muito pontual que detesta chegar atrasada, mas tirando isso estou bem. Está calor, ainda é de manhã, ainda não aconteceram coisas más, por enquanto estou bem.

Qual a música que define a tua vida?
(Inspira) Essa é difícil! Não sei ... Eu gosto muito dos clássicos por isso talvez Queen, The Show Must Go On. Uma pessoa nunca pode estar de braços cruzados e mesmo que se esteja a afundar por dentro acho que ninguém deve ter o prazer de te ver a ficar triste, porque ninguém merece isso por mais importante que seja, ou não.

Qual é a tua palavra favorita? Porquê?
Gosto bastante da palavra "miga" e "migo". É algo que demonstra uma certa intimidade com as pessoas e que não usas com muita gente e é divertida, não é uma daquelas palavras que usas com muita gente, do tipo companheiro, colega, aquelas palavras mais chatas e que os pais usam para definir os nossos amigos.

Uma hora no passado ou no futuro? Porquê?
Eu acho que nem um nem outro, sinceramente. Apesar do passado poder ser muitas vezes aliciante porque temos muitos bons momentos e recordações, nós primeiro nunca sabemos exatamente o que aconteceu porque a nossa memória prega-nos partidas e só vemos as partes boas  portanto isso nessa hora podíamos achar que era algo mito bom e ao fim de algum tempo vermos as coisas de que já não nos lembrávamos. Uma hora no futuro ia ser um bocado desprovida de contexto, acho que ia ficar ali um bocado "Não sei bem o que é que aconteceu para isto acontecer" e acho que não se deve estragar uma surpresa a ninguém. O futuro é o futuro por alguma razão. (sorriso)

Onde é a tua viagem de sonho?
(Pensativa) Acho que a um sitio deserto, sem ninguém, começar do zero, de novo, a natureza, sol, muito sol, porque adoro sol e calor. Lá está, voltar ao inicio ao zero, talvez uma ilha deserta, qualquer coisa assim. (Inspira)


O que mudarias hoje na tua vida?
(Silêncio) Acho que a minha vida é o que é pelas decisões que eu fiz, por isso, sei lá, não perdia tanto tempo com certas pessoas que agora vejo que não valiam a pena ou então tomaria certas ... Não acho que decisões que eu não tenha tomado que me arrependa, acho que não mudaria nada.

Existe alguém com quem fales só por educação?
Existe! (Silêncio) E não é só uma ou duas pessoas, são várias. Mas porque te fizeram alguma coisa? Algumas porque me fizeram alguma coisa outras é mais do género, amigos de infância que nós não queremos largar mas que ao mesmo tempo a vida não dos levou para o mesmo sitio.

Descreve a tua vida universitária ...
(Inspira) É muito díspar, tem pontos muito altos mas outros muito baixos. É outra carga de trabalhos, é outro ambiente, já somos adultos, já temos todas as responsabilidades nos nossos ombros, já ninguém está lá para ajudar ninguém mas ao mesmo tempo encontra-se muito boa gente, há muitos bons momentos, a praxe pode ser também um ponto alto ou um ponto baixo, depende muito da pessoa e da sua visão, do que está à espera. Por exemplo, no meu primeiro ano, ano de caloira, eu não aproveitei metade das coisas porque tinha muitos assuntos fora da faculdade que me puxava muito tempo e que eu não estava predisposta a aproveitar a faculdade, porque estava a pensar nas outras coisas, a partir de meio do ano e este ano já vejo que é diferente porque eu já estou mais predisposta para estar lá, para me divertir, para ajudar as pessoas, agora sendo semi-doutora tenho outras responsabilidades, então acho que é diferente mas é bom, é uma experiência que muita gente precisava para crescer um bocadinho, é outra vivência, é outra coisa completamente diferente e que nos faz conhecer mais dos outros, da vida em geral, como sobre nós.

Estás no curso que sempre sonhaste?
Não! (sorriso) O meu curso de sonho era jornalismo, desde pequenina sonhei em ser escritora e sempre me disseram para ir para jornalismo porque assim ia conseguir e há muitos jornalistas que depois escrevem livros. No dia das candidaturas por uma décima não consegui jornalismo, felizmente calhei na escola que queria, porque é uma escola com um grande nome e apesar de tudo estou a gostar do meu curso (Relações Públicas e Comunicação Empresarial), sinto que não teria feito melhor se tivesse entrado em jornalismo. 

És de te apaixonar facilmente?
Não. (sorriso) Nada! Nada mesmo.


O que é necessário para seres conquistada?
Eu acho que isso é uma das questões que não dá para explicar, primeiro é aquela atração inicial, é aquela faísca que ou há ou não há, e depois mesmo que exista essa faísca não quer dizer que uma pessoa se apaixone mas é preciso muita paciência, eu sou uma pessoa muito stressada, muito ansiosa, faço problemas e problemas, é preciso muita calma, mas também é preciso muito sentido de humor, porque eu às vezes tenho um sentido de humor um pouco retorcido, paciência é o que é preciso, eu demoro muito tempo a dar-me a conhecer às pessoas, sou uma pessoa muito insegura de si própria , então é um bocado difícil as pessoas chegarem lá, mesmo que seja a nível de amizade, não precisa de chegar a apaixonar.

Quantos namorados já tiveste?
Define namorados ... O que entendes por namorados? É porque, nós sempre tivemos aqueles desde a infantil, os namoradinhos de andar de mão dada e um beijinho na boca muito rapidamente, depois aquelas fazes no básico que era basicamente a mesma coisa, só que era mais badalado porque já tínhamos mais idade e não sei quê, já podíamos ir para casa um do outro fazer trabalhos e coisas dessas, embora nunca acontecesse nada, e depois temos a palavra namorado, mesmo, aquela pessoa amiga que está ao teu lado sempre, que te apoia, que te conhece e que está lá para tudo. Deste tipo de namorados só tive um, se bem que posso dizer meio porque foi só metade do namoro que ele foi assim, mas sim, foi um. (silêncio)

Os teus pais metem-se nas tuas relações?
Não! São pessoas muito abertas, muito simpáticas. Lá está, com o meu namorado, a sério , foram super simpáticos e convidaram-no lá para casa e não havia problema, por exemplo, ao dormirmos juntos ou coisas dessas, nunca houve problemas, eu já tinha dezassete anos e eles têm plena confiança em mim, sabem perfeitamente o que é que eu sou e que tenho respeito por eles. (silêncio) Mas também são pessoas um pouco fechadas, nós não falamos uns com os outros em relação a sentimentos, nós não falamos praticamente, falamos das coisas do dia-a-dia mas tirando isso não, por isso também seria difícil eles meterem-se na minha vida.


Como é o teu ideal de família?
Sempre tive o sonho desde pequenina de ter dois filhos, um filho mais velho e uma filha mais novinha, para haver toda aquela questão de ele cuidar dela, o que nunca acontece mas é fofo de imaginar, não sei, eu não tenho nada definido porque até posso acabar por ser daquelas quarentonas solteiras a viver para o trabalho porque, não sei, é onde a vida me levar, eu sou uma pessoa muito dificil e tenho consciência disso, por isso acho dificil que alguém me consiga "aturar", durante anos e anos, ainda por cima depois com crianças, e que provavelmente uma delas tenha o meu feitio, acho que vai ser difícil mas o que eu mais sonho é mesmo com uma pessoa séria e sólida ao meu lado, que seja para mim o que eu posso ser para ela.

Disseste que na tua família não se demonstram sentimentos, como é lidar com isso?
Acho que é uma coisa que a pessoa se habitua, eu desde pequena que é assim ... (silêncio) ... desde sempre, por isso acho que é uma coisa normal, talvez para outras pessoas não seja mas acho que não há grande coisa a falar sobre isso. Como planeias ser quando tiveres uma família? Na minha família o meu pai é antiquado, da aldeia, e tem duas filhas e o pai a falar com as filhas há sempre aquele tabu, a minha mãe é uma pessoa muito fechada sobre os próprios sentimentos. Eu já sou mais aberta, apesar de ter muito do feitio dela, por isso acho que a relação com os meus possíveis filhos será mais aberta mas mesmo assim nada de mãe e filha serem amigas, como vejo muito por aí, não é esse o objetivo de ser mãe.



Como lidas com a traição?
(Respira) Pois ... Não lido, desisto de lidar com essas pessoas, mas em relação a mim. Em relação às outras pessoas sou um pouco mais compreensiva e tento ver a parte racional da coisa, do género, se os acontecimentos levaram para lá, o que se passou, mas em geral deixo de lidar com essas pessoas a partir do momento em que há traição.

Quem foi a última pessoa que te magoou?
Fisicamente foi um rapazinho da natação, no sábado, que me deu um pontapé na boca. Agora emocionalmente ... (pensativa) é mais difícil! (silêncio) Foi uma colega da faculdade, porque aconteceram coisas que eu não vou contar aqui, mas aconteceram coisas referentes a ela sobre as quais eu não tive qualquer controlo e eu fui-lhe explicar a situação e ela foi muito compreensiva mas dois dias depois não olhava para mim e não falava comigo, cortou-me da sua lista e isso magoou-me porque acho que sendo uma pessoa relativamente decente e tendo-lhe contado as coisas em vez de esconder, não percebo a decisão que ela tomou depois.

Acreditas em Deus?
 Já acreditei ... (inspira) Agora é capaz de haver, quer dizer eu acredito numa entidade superior que está lá, mas não acredito em Deus como os católicos os definem, como o Islão o define. Acho que não há nada daquilo de Jesus veio à Terra e não sei quê, acho sim que existe algo superior a todos nós mas nada do que a bíblia diz. Tens alguma religião? De família sou católica, agora pessoalmente não me identifico muito com a religião.

Quantas são as pessoas que sabes que estarão lá para ti nos bons e nos maus momentos?
(Pensativa) Em primeiro lugar a minha família, toda ela apesar da melhor ou pior relação que eu tenha com ela, estarão sempre lá. A nível de amizades talvez umas sete pessoas, dependendo do que acontecer até lá ...

Do que sentes falta?
De alguém ao meu lado, alguém sólido em que eu possa confiar e que caso eu tenha um pesadelo possa ligar às três da manhã, faz-me falta esse tipo de pessoa, porque tenho uma vida muito exigente e é sempre bom ter esse conforto.


A vida costuma dar-te coisas boas?
A vida dá-me muitas coisas boas e muitas coisas más, mas isso é como a toda a gente, agora resta-nos saber é ao que nós devemos dar mais valor. Eu dou mais valor às coisas boas do que todas as coisas más que já me têm acontecido. (sorriso)

Como é que tu prevês a tua vida, num futuro distante?
Distante ... (pensativa) Não sei, eu prevejo poucas pessoas, porque lá está, sou uma pessoa muito difícil e tenho tendência a afastar-me das pessoas. Mas eu não sou de prever eu sou mais de esperar e ver o que acontece, por isso poucas pessoas mas uma vida relativamente feliz.

Quem é o teu pilar nesta vida?
Acho que não tenho nenhum! (silêncio) Podia dizer que era a minha família ou qualquer coisa desse género, mas não, a minha família sempre puxou muito por mim quanto individuo, quanto pessoa, eu tenho de sobreviver e conseguir fazer as coisas à minha maneira e como eu quero. Uma pessoa tem de viver por si e não apoiada em alguém. É-te complicado não teres um pilar? Faz sempre falta aquele carinho, alguém a amparar-nos a queda, alguém a ajudar mas faz parte da vida que nos escolhemos, por isso a pesar de fazer falta não é algo que me incapacite.


O sol é para todos, a sombra para alguns, e o subsolo?
(EnérgicaÉ para as pessoas que não sabem escrever, é para aquelas pessoas que comem de boca aberta, é para aquelas pessoas que não sabem ter maneiras, há muitos pormenores que as pessoas não dão muito valor mas que contribuem, eu acho que é para aquelas pessoas que não têm noção das coisas que estão a fazer e que muitas vezes acabam por magoar alguém ou por não serem completamente corretas. 

Costumas votar?
Sim! Sendo um direito adquirido acho que não vale a pena deitá-lo para o lixo. Porque achas que a coligação Portugal À Frente ganhou as eleições, depois de tanto terem sido criticados? Eu falo por mim, a grande oposição que havia era o Costa e este não seria o que iria levar Portugal para onde ele precisa de ir, por isso acho que foi esta dicotomia. "Bem ou é coligação ou é o Costa ... O Costa não me parece, por isso pronto, vamos para a coligação.", acho que foi mais isso, apesar de muita gente ter criticado foi a coligação que tomou muitas decisões difíceis, que levou Portugal a fazer alguma coisa, a tomar uma posição e não simplesmente ser um bonequinho sem fazer nada. Apesar de tudo ser difícil e haverem situações que eu critico, porque não deviam ter sido como foram, mas acho que muitas das decisões foram aquelas que tinham de ser tomadas, apesar de ser assim um engolir em seco para muita gente.


Como gostarias de morrer?
Acho que ninguém quer morre, não é? (risos) Mas não sei, eu sou uma pessoa muito avessa à dor, por isso um método indolor, a dormir, provavelmente, velhinha na minha cama, já sem o marido para ele não sofrer, ser a última a morrer. Preferias aguentar tu a dor de ver partir o teu marido? Sim, eu não gosto que as outras pessoas sintam dor por causa de mim.

O que é a felicidade?
É algo que não se define, é algo que sentes. Ou és feliz ou não és feliz, não há meio termo, ou te sentes feliz ou não te sentes feliz, apesar de ser diferente, ser feliz e estar feliz. Acho que é algo que sentes ... Sentes-te feliz? (Sorriso) Eu sinto!

Qual é o teu lema de vida?
Eu tenho muitos! Não podemos deixar que as pessoas nos vejam tristes, também tenho o de não haver arrependimentos, as escolhas que tomámos foi o que nos levaram até onde estamos e é basicamente isso.

Como te estás a sentir agora no fim da entrevista?
Estou-me a sentir bem, acho que falei um pouco demais, mas estou bem. (sorriso)

O que quer o teu coração?
(Silêncio Prolongado) Quer continuar a viver e a ver o que se vai passar, esperando que venha o príncipe encantado de que eu preciso para me apoiar, mas se não vier também não vou chorar por causa disso.


Agradeço mais uma vez à Susana por me ter aberto o coração e ter partilhado os seus sentimentos. Muito obrigado.

Chega assim ao fim mais uma entrevista, onde ficámos a conhecer fragmentos desta vida. Mais uma pessoa comum entre muitas a ser entrevistada, quem sabe se da próxima vez não és tu a responder às minhas questões ...

O que achaste desta entrevista?

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