julho 13, 2016

Fragmentos de Vidas #16


Mafalda Sofia, dezanove anos, simpática, divertida, feminista, amiga, sensível, sincera, persistente, teimosa, prudente, ...
Uma entrevista pacífica e cheia de amor que não podem deixar de ler ...


Como te estás a sentir agora, antes de responderes às perguntas?
Confesso que estou um pouco nervosa. Nunca tinha sido entrevistada antes, tudo isto é novo para mim.

Como e onde te vês daqui a dez anos?
Esta pergunta é um pouco complicada para mim. Eu tento viver um dia de cada vez, sem pensar muito no amanha, só as coisas essenciais. Mas daqui a dez anos, acho que gostava de poder estar a ajudar alguém com o curso que estou a tirar, quem sabe em algum país mais necessitado, só o futuro o dirá.

Qual a tua maior fraqueza?
Sinceramente não sei ao certo, mas é algo entre em magoarem as pessoas que amo e me preocupo, e me magoarem a mim. Apesar de muitas vezes, para não dizer quase sempre, ponho os outros e as necessidades deles à frente das minhas.

O que farias nos teus quinze minutos de fama?
Nos meus quinze minutos de fama, acho que aproveitava para chamar a atenção as pessoas sobre os problemas dentro da sua sociedade, mas principalmente os que estão fora. Chamava a atenção para as enormes dificuldades que os países Africanos e não só, apresentam a nível de desigualdade social, escassez de comido, doenças. Tentava fazer o meu melhor para conseguir que as mulheres deixassem de ser tão maltratadas só porque pertencem ao dito “sexo mais fraco”.

O que querias ser em criança?
Então, o que quase todas as raparigas da minha altura queriam. Ser uma navegante da lua, ter um namorado como o mascarado, ter um Doremon de estimação que nos pudesse levar onde quiséssemos buscar doces e viver na terra dos Teletubies.


Como foi a mudança do ensino secundário para o universitário?
Foi horrível. Foi um enorme choque para mim. Sinto que não estava preparada para dar esse passo na minha vida. O que me preocupava não era deixar os meus “amigos” do secundário, mas sim de sair da minha zona de conforto, sair do pé da minha avó. Ao entrar num mundo novo onde não conhecia ninguém, para mim não dava. Mas não me arrependo de ter vindo, só pela diversidade de pessoas que conheci e pelas amizades que criei.

Porquê uma universidade em Lisboa?
Porque não? Para mim ter escolhido uma universidade em Lisboa ou uma no Porto era a mesma coisa, o que mudava era a distancia para casa. Eu sabia que a minha família me ia apoiar para qualquer que fosse o sitio que escolhesse, mas no fundo tinha que ser uma decisão minha, mais ninguém a podia tomar por mim.

Qual a tua opinião sobre as praxes? É algo que se deve experimentar?
A praxe é sempre aquela coisa muito criticada que toda a gente diz que não gosta seja pelo que vêm na televisão seja pelo que ouvem, mas quando experimentam, ma maior parte dos casos, não querem deixar. Eu era uma dessas pessoas, confesso, não queria nada ir para as praxes porque ouvia que elas eram horríveis, e o acidente que aconteceu no Meco também não era lá muito favorável há minha ideia de praxe. Mas olha, experimentei e não me arrependo. Não estou lá pela comissão de praxe, como sei que muitos estão, não gosto de toda a gente, a única coisa que neste momento me prende lá é o meu padrinho de praxe, que é simplesmente espetacular, e aquilo que aos poucos a praxe e o meu traje significam para mim. Não recomendo a ninguém, só digo para não julgarem o livro pela capa que apresenta.

Gostavas de fazer Erasmus? Quais os países que te aliciam?
Erasmus é uma coisa que sempre quis fazer, deste o inicio do ano, quando saiu a lista dos países e das faculdades que podíamos frequentar, que a universidade de Macau me deixou com uma certa curiosidade e uma vontade maior de o fazer.

Gostas da vida de estudante?
Gosto e não gosto. Porquê? Gosto da parte de aprender novas coisas, de adquirir mais cultura. Detesto a parte em que temos que estar a ouvir o mesmo professor durante três horas de seguida, é horrível!


Qual a tua música romântica favorita? 
Tenho muitas, mas a que se destaca mais é a “Your Song” do Elton John. Não na versão original, mas sim na do filme “Moulin Rouge”. Porquê? A musica cativou-me pela maneira e o sentimento que o ator transmitia ao canta-la, foi uma musica que me apaixonei assim que a ouvi pela primeira vez.

Já te apaixonaste pela pessoa errada?
Quem já não se apaixonou pela pessoa errada? É uma coisa que certamente não vou voltar a repetir, até porque passei mal com isso e foi bastante complicado.

Já namoraste alguém sem gostar da pessoa?
Já, foi uma relação forçada por terceiros e que me fizeram acreditar que estava completamente apaixonada e que aquela era a pessoa certa. Mas felizmente acabou, não da melhor maneira, mas acabou.

Os “príncipes encantados” existem? 
Claro que existem “príncipes encantados”, todas as raparigas têm o sonho e o direito de ter um. O que era de nós se não tivéssemos essa esperança. Já encontraste o teu? Eu finalmente achei o meu, e desta vez não o vou largar.

Que parte do corpo masculino te chama mais a atenção?
Definitivamente os olhos, pode-se aprender muita coisa olhando para eles.


De quem tens saudades?
Morro de saudades do meu bisavô materno. Posso considerar que foi uma pessoa que marcou bastante a minha infância e que morreu na altura em que precisava mais dele.

Como é o teu conceito de família ideal?
Esta pergunta é engraçada porque acho que não existe um único conceito de família ideal. Cada família é como é com os seus defeitos e problemas, e não podemos mudar isso. Por exemplo, por mais problemas e desentendimentos que haja na minha, não a trocaria por nada. Para mim ela é a família ideal.

É complicado o facto do teu pai trabalhar no estrangeiro?
É mais que complicado. Ao longo destes anos todos, ainda não me habituei a vê-lo partir para um país distante, ainda por cima, todos os países para onde ele vai são extremamente problemáticos e não gostam lá muito de estrangeiros.

Quantos filhos gostarias de ter? 
Inicialmente só queria ter um, uma menina, mas agora no presente já quero ter dois. Porquê? Existe uma pessoa na minha vida que me fez mudar de ideias em relação a isso.

Qual a tua opinião sobre o movimento feminista?
Se o movimento feminista nunca tivesse acontecido, eu nunca podia estar aqui a dar a entrevista, não podia estar na faculdade. Possivelmente já estava casada com alguém que os meus pais escolhessem. Foi um movimento bastante importante na história das mulheres, conseguiu com que tivéssemos a nossa liberdade e os nossos direitos, conseguíssemos alcançar a igualdade de género. É pena, nos dias de hoje, que ainda haja mulheres que não consigam ter os mesmos direitos e liberdades que os homens possuem, mas quem sabe que amanhã isso não mude.


O que te deixa com medo? 
Cair no esquecimento é aquilo que me deixa com mais medo, não é perder a memoria, mas sim os outros esquecerem-se de mim. Porque sentes medo? Sentir medo é uma coisa que toda a gente tem, podem não o demonstrar, mas sentem-no. Está na nossa natureza possuir medo.

Como gostarias de morrer?
A mim não interessa o sitio onde morrer, só gostava de não sofrer. Acho que já sofri demasiado durante a vida, para que quando tivesse as portas da morte sofrer ainda mais.

Acreditas no Karma? 
Acredito. Porquê? Não tenho nenhuma maneira de explicar o porque de acreditar. Acredito tanto como acredito em magia, são coisas que para o normal ser humano só existem em filmes, mas que para mim existem na vida real.

O que pensas sobre a eutanásia?
Penso que devia ser apoiada, todas as pessoas têm o direito a morrer quando querem, têm direito a não sofrer mesmo quando ainda existe tratamento possível. Se podemos ter uma morte medicamente assistida, e em segurança, porque não utilizá-la?

Alguém te deve um pedido de desculpas?
Acho que ninguém me deve um pedido de desculpas, pelo menos que me lembre.  E tu deves a alguém? Eu sim devo um pedido de desculpas ao meu bisavô por não ter ido ao funeral dele.


O que gostarias de fazer mas ainda não fizeste?
Adorava ir ver as Cataratas do Niágara, mas nunca se propôs essa viagem e também não há nível monetário suficiente para ir.

Ser livre é ter tudo o que queremos?
Sim e não. Não porque as vezes ser livre não nos trás tudo o que queremos, pode não nos trazer a felicidade ou o amor. Sim porque sem sermos lives não podemos viver como queremos.

O que gostarias de mudar na tua vida?
O meu passado. Se eu soubesse o que sei hoje, não tinha feito muita coisa que fiz. É um dos meus maiores arrependimentos.

Como te estás a sentir agora quase no fim da entrevista?
Mais calma e aliviada. Ao inicio estava com medo das perguntas, mas agora tenho pena que esteja a acabar.

O que quer o teu coração?
Duas coisas simples, paz e amor.


Resta-me agradecer à Mafalda por ter aceite responder sem constrangimentos às minhas perguntas. Obrigado.

Termina assim esta entrevista cheia de palavras que nos fazem pensar. O que acharam?

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